Que tal um filme de ação com direito a alta tecnologia, batalhas, alienígenas, repleto de explosões, baseado num famosa franquia de uma gigante do mundo dos brinquedos? Não estamos falando de Transformers – esse é o caso de “Battleship”, que apesar de ter ganhado o subtítulo “Batalha dos Mares”, reteve o nome do jogo de tabuleiro original norte-americano. Não sabe que brinquedo é esse?


Acredite se quiser, é o velho “Batalha Naval”. (Será que por conta disso não terão que pagar direitos autorais pelo nome??)


Alex Hopper (Taylor Kitsch) não tem direção na vida. Orgulhoso e intempestivo, causa muitos problemas a si mesmo e aos outros. Tenente da marinha por influência do irmão Stone (Alexander Skarsgård), seu comportamento está prestes a acabar com sua carreira, assim como suas chances com Sam (Brooklyn Decker), filha do Almirante Shane (Liam Neeson). Durante uma operação naval em um evento pacífico envolvendo a marinha de diversos países, um grupo de misteriosas naves alienígenas surgem, iniciando uma devastação nas tropas. Isolados por uma estranha barreira, Alex e seus subordinados e aliados passam a sobreviver como podem contra os invasores, que teriam atacado a partir de um contato da Terra – e estão prontos para chamarem outros de seu povo em questão de horas.
É um pouco surreal ver os desdobramentos que “Battleship” teve a partir do jogo original: de um passatempo de estratégia para uma mega-produção de alta velocidade e pouca massa (encefálica ou dramática). O logo da empresa Hasbro logo no início já é um prelúdio que teremos material para todas as idades. A classificação “10 anos” não ajuda a disfarçar a verdade: se você se interessou pela ação ou pela ficção científica, não espere algo exatamente inspirado ou inteligente, muito menos gráfico ou violento, ao menos em excesso. (A propósito, fiquem ligados se se interessarem: acompanhando o lançamento estão novos games, assim como uma leva de brinquedos)

Vale o crédito onde o crédito é devido: as cenas de ação são fantásticas. Apesar de Michael Bay não estar envolvido no projeto, explosões e cenas de destruição não faltaram, e todas estão extremamente bem executadas, usando e abusando de efeitos especiais, claro. Como um filme de ação, “Battleship” sabe manter e impressionar, dosando bem os tiroteios, perseguições, batalhas e momentos tensos, como o suspense antes de um ataque ou na tentativa de um plano ousado. Somando isso à trilha sonora de alta velocidade, repleta de rock and roll, contando com o talento de Tom Morello (de Rage Against the Machine, entre outras bandas), nos vemos animados facilmente.
A trama se arrisca por outros caminhos com sucesso variável, com o romance leve com Sam que serve de motivador para Alex, assim como elementos de comédia, com tiradas rápidas com os protagonistas (uma das cenas iniciais de Alex tira risos até dos mais sérios), mas especialmente com secundários como o marinheiro Ordy (Jesse Piemons).

O enredo em si, porém, é uma colcha de retalhos de clichês. Apesar de bem estruturado e criativo até certo ponto, nenhum dos personagens inova em conceito, muito menos nos caminhos que o filme tenta seguir. É fácil saber tudo que irá acontecer e o que cada personagem irá fazer. Temos desde o herói perdedor que cresce e amadurece durante a trama, a ameaça que junta rivais por um bem maior, os aliados improváveis que acabam vitais para a vitória, cientistas malucos, líderes confusos, alívios cômicos e, entre outros, a ajudante espertinha que adora frases de efeito, encarnada por Rihanna como a Oficial Raikes, subordinada de Alex.
Aliás, todos personagens adoram frases de efeito e nenhum é exatamente memorável por boa parte de sua atuação na tela. Mesmo que acabemos gostando de alguns deles, o fazemos mais por afinidade por serem os heróis do que qualquer outra coisa. Mesmo a dupla de herói x heroína tem pouco a oferecer. Os secundários impressionam pouco, com apenas os mais cômicos ou estranhos se tornando fáceis de lembrar. No geral, o elenco ficou dentro do esperado dos personagens simples, com ninguém se destacando. Rihanna ganhou certa visibilidade em seu primeiro papel no cinema com uma personagem minimamente interessante imersa em uma coleção de clichês. Não foi uma grande atuação, muito disso culpa da própria personagem, mas com certeza irá agradar os fãs da cantora.

O filme pode causar certo estranhamento no público brasileiro pelo seu material extremamente patriótico. Além de ser um elogio às frotas antigas e novas da Marinha norte-americana, assim como aos jatos, armas e tropas, o filme deixa homenagens, veladas ou não, aos veteranos de guerras, assim como aos soldados aposentados por invalidez, como o personagem Mick (Gregory D. Gadson, que realmente perdeu ambas as pernas na vida real). Algumas cenas tem uma montagem claramente inspirando o sentimentalismo pela tradição norte-americana, como um momento cheio de simbologia ianque, em que um garoto, jogando baseball com os amigos, é ameaçado por um dos invasores. Tirando alguns exageros, porém, algumas dessas idéias contribuiram para o longa, como imagens em televisões mostrando o Presidente Obama em um discurso buscando acalmar a população.
Com certeza irá agradar aqueles que gostam de histórias simples e fáceis, ou de pura e simplesmente ação desenfreada e explosiva. Vale destacar um crédito do filme – em um segmento, por questões até bem lógicas de roteiro, a mecânica do jogo de tabuleiro é abordada diretamente, numa surpresa agradável. Mas de todo modo, se quer ficção científica de qualidade, aguarde por outros lançamentos.
A propósito, “Battleship” não foge de uma tendência recente que deixa algumas promessas implícitas: fiquem até o fim dos créditos para uma cena extra.










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