domingo, 20 de fevereiro de 2011

ENCONTRO (DES)MARCADO #3

Ingrid Betancourt em foto da campanha de divulgação de seu livro no Brasil.

 
"Eu disse para mim mesma que, a partir do dia em que estivesse de volta, prestaria atenção aos detalhes, teria sempre flores em minha casa, e perfume, e não me proibiria mais os doces, os sorvetes. Compreendia que a vida tinha me dado acesso a muita coisa boa que eu tinha abandonado com displicência. Tomei nota em algum lugar para não esquecer, porque achava que a insuportável forma fútil de viver poderia me fazer esquecer o que eu tinha vivido, pensado e sentido no cativeiro, uma vez que estaria longe dali..."

Ingrid Betancourt, Não há silêncio que não termine - Meus anos de cativeiro na selva colombiana.
Editora Companhia das letras, pag. 405.


Não há silêncio que não termine é um livro de cunho político, mas é também a catarse da dor de dezenas de seres humanos rebaixados a condição de pária. A obra de Ingrid Betancourt, ex-candidata à presidência colombiana sequestrada pelas Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) em 2002 e mantida em cativeiro até 2008, mescla narrativa em primeira e terceira pessoa com um ritmo ágil, como um thriller, a ponto do leitor (o menos preguiçoso) não sentir o peso das mais de 500 páginas. Traz ainda a angústia de uma mulher e de uma mãe privada da companhia dos filhos por longos anos. E a tristeza de uma filha que perdeu o pai, maior referência de sua vida.
Durante quase sete anos, até ser libertada em 2 de Julho de 2008, Ingrid viveu prisioneira em um paraíso verde que ganhou contornos de uma das estações do inferno de Dante Alighieri (italiano renascentista, autor da Divina Comédia). Escondida em sucessivos acampamentos na selva amazônica, passou fome e frio; além de sofrer violência moral e física. Sua história é mais que conhecida, ela virou mito ainda em cativeiro. A foto que a mostrava debilitada e presa em um dos acampamentos, correu o globo e chamou a atenção da opinião pública mundial. 
 
 
A famosa fotografia tirada em 2008, dois meses antes de sua libertação.
 
 
Então, o livro não traz novidades quanto aos fatos, mas traz o testemunho de quem viveu o inferno na pele e a análise dos acontecimentos, sob a perspectiva da vítima. E ao perder tudo e ser reduzida ao estado bruto e primitivo do ser humano, só via dois caminhos: o embrutecimento ou a redenção pela solidariedade. Ingrid Betancourt, ao que parece, escolheu o segundo caminho.
 

 
1º parte
 
2º parte


Em Novembro de 2010, Ingrid veio ao Brasil divulgar o lançamento de seu livro, deu entrevistas a revistas renomadas como a Veja, a Galileu, Superinteressante entre outras. Porém, apareceu apenas em um programa de televisão, onde forneceu uma entrevista reveladora e maravilhosa ao apresentador Jô Soares, (Links acima da primeira e segunda parte) vale a pena conferir.


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