Uma das grandes promessas do mundo da ficção científica para 2012, “Prometheus” surgiu misterioso e logo virou assunto de discussão dos fãs do gênero. De um lado, o argumento de que seria superestimado. De outro, que seria revolucionário. A presença do lendário diretor / produtor Ridley Scott, de “Alien” (1979) e “Blade Runner” (1982) só colocou mais lenha na fogueira, assim como a promessa do longa ser uma “prequel” de “Alien”, ao mesmo tempo que poderia ser um filme independente da franquia. Vamos por partes.
“Prometheus” conta a história de Elizabeth Shaw (Noomi Rapace) que, junto de Charlie Holloway (Logan Marshall-Green), descobre pelo mundo uma série de indicações teoricamente deixadas por alienígenas, que explicariam a origem do ser humano. Guiados por um mapa estelar, a dupla convence o milionário Peter Weyland (Guy Pearce) a patrocinar uma expedição aos confins da galáxia, onde esperam encontrar os seres conhecidos como “Engenheiros”, que teriam criado os humanos. Como parte da tripulação da nave “Prometheus”, Elizabeth passa a responder para a fria Meredith Vickers (Charlize Theron) e conviver com o estranho androide David (Michael Fassbender), conforme o grupo investiga um planeta que pode ter segredos muito piores do que esperavam, podendo levar à extinção da raça humana.
Ficção científica com forte influência de elementos clássicos, “Prometheus” já começa imergindo o público no futuro e levantando dúvidas, com um estranho prólogo que diz muito sobre os eventos que vemos a seguir, ao mesmo tempo que explica pouco – ficamos com a sensação de estranhamento que muitos filmes, entre eles “2001” (1968), souberam fazer tão bem. Em seguida, a história propriamente dita se inicia.
A aventura começa a partir de 2089, sendo que a chegada ao planeta seria em 2093. Entre muita tecnologia futurista, logo nos vemos acostumados com o funcionamento desse universo. Desde o sono de suspensão no qual os personagens são colocados, quanto os vídeos holográficos ou o próprio sistema da nave, tudo é apresentado de maneira natural e simples de entender – mesmo sendo ficção-científica, o filme não se alonga onde não é necessário, deixando mais espaço para o enredo e para algumas discussões sócio-filosóficas de peso.
De fato, o longa inteiro é permeado de alguns temas específicos, entre o mais proeminente, a própria criação e a fé. Como a equipe estaria buscando o que seria nosso equivalente de Deus – aquele, ou aqueles que nos criaram – repetidamente é levantada a dúvida de, simplesmente, o que faríamos se encontrássemos Deus? Indo além, vemos a maneira que Elizabeth não abandona sua fé cristã mesmo frente à evidência de algo físico. A discussão dá muito o que pensar, ainda mais em um excelente diálogo em que Elizabeth fala sobre o que escolhemos acreditar.
Obviamente, nem sempre a discussão é tão declarada, ainda que inevitável. O próprio andróide David faz as vezes do ser humano no jogo da criação. Ele é um robô, cercado por seres “superiores”, que podem ter sentimentos que ele não tem e a quem ele deve obedecer. O dilema de criação, de como os humanos vêem David e vice-versa, diz muito sobre a própria missão do Prometheus e antecipa eventos do filme. A própria nave e seu nome, homenagem declarada ao Titã Prometeu, que desafiou os deuses, já dá ainda mais material para dissertação. Com foco menor, mas mesma importância, entra uma breve discussão sobre paternidade, tanto no sentido literal quanto no aspecto criação x criador. Obviamente, nada disso teria o mesmo impacto se não fossem as excelentes atuações de Noomi Rapace, Michael Fassbender e Charlize Theron. Os três, juntamente de Logan Marshall-Green, com menor enfoque, são o núcleo dessas discussões e, seja relacionados à filosofia ou à pura ação do filme, roubam a cena facilmente.
O talento para a ação e suspense de Ridley Scott está à toda. Nos pegamos diversas vezes agarrados ao braço da poltrona, corroídos pela tensão, esperando o que irá acontecer. Não que o filme não caia em velhos sustos, em especial os inspirados pela franquia “Alien”, mas mesmo esses funcionam tão bem que não há do que reclamar. Fica também o crédito para certas cenas aflitivas, em especial um dos grandes momentos com a protagonista.
Falando em Elizabeth, é necessário apontar algumas semelhanças. Enquanto Ridley Scott e sua equipe afirmaram categoricamente que o filme é uma história isolada, que consegue existir separadamente de Alien, é inevitável fazer a comparação, em especial quando, de fato, a história funciona claramente como um prólogo à serie. Se isso melhora ou prejudica o filme como uma obra original, fica para a opinião de cada um, mas é inegável, por exemplo, que a trajetória de Shaw e Ripley, protagonista dos principais filmes da série “Alien”, é cheia de pontos em comum que os fãs irão notar. A propósito, fica aqui mais um elogio a Noomi Rapace, que, além de realizar diversas cenas difíceis, conseguiu atuar muito bem a evolução de sua personagem.
Outro ponto inegável fica na presença da arte característica de H. R. Giger, artista famoso pelo famoso Alien, entre muitos outros conceitos relacionados. Aqui, o dedo de Giger ressurge em criaturas, assim como belíssimos cenários – todos cheios de referências. No decorrer da trama, outros elementos são toques diretos e indiretos à série original, seja na formação da tripulação, na presença da Corporação Weyland (alguém mais se lembra de “Weyland-Yutani”?) ou na própria presença do andróide David, pelo excelente Michael Fassbender. Uma cena com ele, ao final do longa, lembrará com certeza os fãs de um dos grandes momentos de “Alien”.
Como um todo, uma ótima obra de ficção científica que funciona tanto sozinha quanto como parte de uma série, com a grande ressalva que se torna muito mais interessante para aqueles que já conhecem ao menos o filme original. Naturalmente, surge também brechas para discussão pelos mais aficionados.
Um bom trabalho em suspense (com pitadas do terror espacial, ou do senso de sobrevivência de filmes do gênero) também pode divertir fãs do gênero, apesar de ser possível discutir quanto à originalidade dos sustos. Finalmente, vale destacar que, ainda que conclua diversos pontos que propõe, “Prometheus” não é 100% fechado, o que pode gerar alguns narizes torcidos. Vá com a cabeça aberta e os olhos arregalados.
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Copiei daqui
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